“Eu nasci em Aveiro, ao que suponho na proa de alguma bateira. Fui baptizado à mesma hora, nas águas da nossa Ria. Abriram-se-me os ouvidos ao som cadenciado dos remos no mar, ao pio estrídulo das famintas gaivotas, ao praguejo inocente dos pescadores. Encheu-se-me o peito à nascença do ar salgado da maresia.”
Estas foram as primeiras palavras escritas e ditas por D. João Evangelista de Lima Vidal, quando a cidade unida no ano de 1960 pediu a pista de remo para os Galitos. Uma manifestação enorme, um dia belo em Aveiro e do Galitos mas que hoje continua sem ser cumprido.
Esta névoa sebastianina ainda envolve e cobre Aveiro mais de meio século depois da data deste fabuloso discurso, apesar de, em cada ano que passa, nos verbalizarem avistar-se uma enganadora luz de farol que anuncia a pista do rio novo do Príncipe.
Mas, hoje, o Clube do Galitos sofre a grande ameaça de, mesmo com a pista de remo no horizonte, ser despejado do seu local de treino de mais de 20 anos, nos terrenos da Antiga Lota, hoje Zona Polis.
A promessa de nos manterem o local passa mais veloz e depressa que os cachos de moliço (jacintos actualmente) nas águas salgadas da nossa ria.
Aprendemos à nossa custa com os 50 anos de atraso da pista e iguais anos de juras e promessas das autoridades civis e governamentais.
Por isso acreditamos que as mesmas só servem se forem protocoladas.
Como sabiamente dita o povo: «de boas intenções está o inferno cheio»!
A valorização da antiga lota é uma necessidade para a cidade, uma valorização notável da zona, um projecto bonito, mas não deve ser apenas e somente encarado como um negócio, gerador de mais valias. A manutenção da actividade dos clubes na zona é fundamental para a integração da nova Lota na cidade das pessoas, dos aveirenses que aprenderam a valorizar mais do que outras fidalguias, as que se constroem com trabalho e esforço. E é nesta categoria que se arquiva a honrosa história desportiva e cultural do Galitos.
Por isso sugerimos e pedimos a todos os Aveirenses que sentem a nossa terra, os nossos valores e glórias como o nosso emérito Bispo de Eixo “Assim plasmado de Aveiro, com os beiços a saber a salgado, a pingar gotas de ria por todo o corpo, por toda a alma”, que estejam unidos com aqueles remadores que muito deram à cidade na defesa pela continuidade do seu local encontro, de treino, de tertúlia na zona da antiga Lota.
É imperioso que se mantenha a mesma estrutura, renovada e enquadrada no projecto que se quer para a zona da Lota, do actual posto náutico do Clube dos Galitos. Não pode ser cobrada à própria Náutica, a factura decorrente da valorização imobiliária, de que se percebe vir a ser uma das zonas mais apetecíveis da cidade. As autoridades locais devem-nos isso. Aveiro reclama-nos esta postura.
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